VALOR ECONÔMICO – Um manobrista questionou o banqueiro judeu, após receber uma gorjeta de R$ 1,80. “Poxa, só isso, senhor? Ontem seu filho esteve aqui e me deu R$ 180”, disse. “É porque, diferentemente dele, não tenho pai rico”, retrucou o banqueiro. A anedota é repetida há anos na comunidade judaica paulistana como uma brincadeira entre gerações – os números escolhidos passam despercebidos, mas não são aleatórios. É um hábito na comunidade fazer doações e também negócios usando múltiplos de 18, que representa desejo de vida longa e próspera.

É cultivando esse costume que duas gestoras de private equity, a BR Opportunities e a Performa, resolveram unir suas operações para atuar em venture capital na X-8 Investimentos. “As letras da palavra vida, em hebraico, somam 18. Resolvemos unir esse número com os símbolos de multiplicação e eternidade para batizar a companhia, já que são conceitos que têm a ver com inovação e sustentabilidade, que buscamos em empresas para investir”, explica Eduardo Grytz, sócio da X-8 e da Performa. “Ele é judeu, eu não, mas curiosamente já uso há anos o número 18 como referência, até para definir a placa do meu carro”, conta Carlos Miranda, fundador da BR Opportunities e sócio da X-8.

Enquanto a BR Opportunities entra com toda sua operação no novo negócio, a Performa cindiu sua atuação de venture capital para integrar a X-8 e continuará funcionando com o nome de origem no segmento de private equity – onde Grytz continua sócio. O fundo de venture capital da casa será encerrado em fevereiro de 2020. Já na BR, o fundo existente já fez a maior parte dos desinvestimentos, mas manterá as empresas Isabela Flores e Flores Online, em que avalia que o potencial ganho com a venda de participação pode ser maior futuramente.

A X-8 investirá em médias empresas, que apresentem rápido crescimento, que sejam negócios de impacto na sociedade e que os gestores das empresas também sejam um destaque do negócio – uma vez que os aportes serão sempre minoritários e apostando na atual gestão das companhias. “São empresas com faturamento anual entre R$ 50 milhões e R$ 200 milhões, de alimentação, saúde, mobilidade, saúde, serviços financeiros”, afirma Miranda. “Atividades que estejam relacionadas diretamente ao consumidor final.”

A gestora já começou a levantar seu primeiro fundo, que tem objetivo de captar R$ 200 milhões, com um primeiro fechamento, até março, de R$ 50 milhões. São investidores qualificados, com aporte a partir de R$ 5 milhões, muitos deles também com histórico de empreendedorismo, ou institucionais já ligados a investimento  e impacto, como o fundo Capria.

A X-8 é uma mistura da base de cotistas que as duas gestoras construíram nos últimos anos. Miranda trouxe para a BR uma rede de relacionamentos da carreira como sócio da consultoria EY, o que fez com que a maioria de seus investidores fossem family offices brasileiros. Na Performa, os cotistas são principalmente institucionais – como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Desenvolve SP e o fundo soberano da Bélgica.

“Queremos dar escala para teses de negócios que tenham propósito. Já fazíamos isso separadamente e avaliamos que, com maior escala, essas companhias conseguem gerar impacto ainda maior na sociedade”, diz Grytz. Os sócios complementam que há uma gama ampla de investidores individuais e fundos na fase inicial de startups, que aplicam capital semente e atuam como investidor-anjo.

Também há fundos de private equity voltados a empresas maduras. “Tem um buraco nesse meio, onde estão empresas médias. São maior em número, mas é o segmento com menos oferta de capital”, diz Miranda. A BR Opportunities ficou conhecida principalmente pelo investimento feito na Mãe Terra, empresa de alimentos naturais e orgânicos que foi vendida para Unilever em 2017. Já a Performa, que tem 12 investidas em seu portfólio, fez aportes como Intelipost, startup de logística de entregas de encomendas, e na empresa de construção Techverde, que desenvolveu uma tecnologia construtiva mais barata e com menos resíduos.

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