PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES NEGÓCIOS, por Carlos Miranda – As escolhas dos gestores em relação à transparência e à lisura determinam os bons ou maus resultados da empresa

Quando vi as recentes manifestações, senti (e me animei), assim como a maioria das pessoas, que o país estava dando um importante passo em direção à ética e à decência.

No entanto, enquanto ainda estava embriagado por essa esperança, na minha primeira saída, pensei estar em um país diferente daquele que a televisão mostrava.

Continuei vendo jovens estacionando em vagas de idosos, pessoas corrompendo policiais, negociantes (me recuso a chamá-los de empreendedores) continuando suas práticas de caixa dois, desrespeito às leis trabalhistas, não pagamento de impostos e corrupção de fiscais, entre outros pecados diários e, o pior de tudo, sem o menor pudor, muitas vezes na frente de seus filhos e colaboradores.

Infelizmente, temos de encarar essa realidade de nosso país. A pessoa que reivindica seus direitos e que briga para melhorar o país é a mesma que corrompe, desrespeita e é desonesta.

As pessoas, ainda bem, já conhecem e sabem reclamar os seus direitos, mas infelizmente ainda somos o país do atalho, do individual contra o coletivo.

A grande revolução acontecerá no dia em que nós fizermos um pacto de tolerância zero com a mentira, com a desonestidade e com a falta de respeito em nossas famílias e negócios.

Eu ainda não perdi as esperanças, e peço desculpas pelo meu desabafo.

No entanto, gostaria de analisar friamente – ainda que superficialmente – a questão da desonestidade de alguns gestores dentro das empresas, que é o que nos interessa.

Na minha experiência com empresas bem-sucedidas, posso afirmar que todas as que conheci seguiram o seu caminho sem desvios pelos atalhos da desonestidade.

Não quero com isso dizer que 100% das pessoas responsáveis por esses negócios tenham essência legitimamente honesta. Isso demandaria uma análise muito mais ampla e complexa. O que posso afirmar é que, independentemente dos aspectos éticos, o caminho da transparência e da lisura pode potencializar o sucesso de qualquer negócio.

Por exemplo, um gestor que adota a política de sonegar receita obrigatoriamente terá de criar controles paralelos e menos formais.
Além disso, precisará confiar em pessoas, pois seus sistemas não poderão ser utilizados na sua plenitude. O resultado disso será certamente uma maior vulnerabilidade ao roubo.

Poderíamos dizer que, se esse gestor tem uma pessoa de confiança, essa possibilidade seria remota. No entanto, eu pergunto: qual é a mensagem passada para um colaborador quando se pede dele a cumplicidade em atos ilícitos? Será que um colaborador que concorda com isso merece confiança? Tentando extrapolar um pouco, será que há uma relação de confiança e honestidade dentro de uma quadrilha?

Há também os outros colaboradores que, de uma forma ou outra, ficam sabendo das irregularidades de seus gestores. Não serão eles desestimulados a serem honestos com o gestor e com a empresa?

Esses gestores ficarão cada vez mais reféns dos corruptos, que passarão a participar dos lucros de sua empresa, sem correr os riscos do negócio.

Então, chegará o momento em que a empresa terá o desafio de crescer ou morrer. E, por conta disso, terá a necessidade de tomar dívidas saudáveis ou buscar investidores.

Esse será o momento derradeiro da verdade. No caso de investidores profissionais, eles jamais aceitarão entrar em empresas irregulares. Tampouco considerarão em suas avaliações qualquer benefício decorrente dos desvios adotados pelo gestor. Nas análises desses investidores, todos os ganhos advindos dessas práticas deverão ser ajustados imediatamente.

Ou seja, essas empresas estão realmente fadadas ao insucesso, ao não crescimento e muito provavelmente à morte.

Alguns poderiam dizer que conhecem gestores adeptos dessas práticas e que estão ricos ou muito bem de vida. Mas posso garantir que esses negócios não se perpetuarão e jamais serão legados para as próximas gerações.

Finalmente, como disse anteriormente, ainda tenho esperanças e acredito piamente que a grande revolução em nossa sociedade se dará pelo pacto da verdade e da honestidade. No entanto, mesmo que as pessoas não se transformem, que pelo menos acreditem que a honestidade é, cada dia mais, uma questão de sobrevivência. Ou, como lembra o dito popular: “Se o malandro soubesse como é bom ser honesto, ele o seria apenas por malandragem”.

Ver matéria original: https://revistapegn.globo.com/Colunistas/Carlos-Miranda/noticia/2013/08/chega-de-desonestidade.html